Pois bem, vamos contar para quem não sabe o que é uma travessia. E, tanto para quem já sabia quanto para quem não sabia, vamos dar umas dicas de travessias em Parques Nacionais.
A forma de percorrer os caminhos em áreas naturais, a pé ou de bicicleta, podem ser de três tipos:
1. Vão e voltam pelo mesmo caminho;2. Vão e voltam por caminhos distintos;
3. Vão e não voltam.
O primeiro tipo é a trilha, o mais comum. É o mesmo caminho, mas como a volta é na direção oposta, acaba sendo bem diferente. Principalmente se a ida for numa subida e a volta numa descida, ou vice-versa.
O segundo geralmente é chamado de circuito. É mais variado que a trilha, o que dá a chance de conhecer ainda mais. Por outro lado, ao não retornar pelo mesmo caminho, você não consegue ter duas perspectivas da mesma trilha. Então, não há chance de guardar algo para ver na volta.
O terceiro é chamado de travessia: uma trilha que não volta ao ponto de origem, é só ida.
Trilhas, circuitos e travessias podem ser feitos em um único dia ou com pernoite. Pernoitar no caminho não é restrito a travessias, mas muitas travessias incluem pernoite.
Aliás, se há algo que nós recomendamos é pernoitar dentro dos parques, onde for permitido. Pode ser acampando ou em casas de nativos, em alguns lugares há abrigos ou até pousadas. Toda vez que você se dá a chance de dormir num parque natural, sua relação com ele muda.
Ver o sol se por, cozinhar, tomar banho sem gerar impacto, ver as estrelas, acompanhar os sons e o silêncio, ver o nascer do sol, se arrumar e seguir muda muito a perspectiva e o respeito que geramos com aquele local.
O mais difícil da travessia é o tal do resgate. Como o ponto de chegada é diferente do ponto de partida, mesmo que você tenha ido com seu carro, ele não estará no final da travessia. A menos que alguém tenha levado ele até lá para você.
Organizar essa logística de idas e vindas não é fácil quando você está longe. Nossa dica é procurar ajuda com os guias ou com alguém que já fez a travessia.
Outro ponto é o custo. Há travessias de 40-50km em que a distância de carro chega a 150-200km. Ou seja, para alguém te buscar e te levar de volta, essa pessoa terá que dirigir 300-400km. A dica é: além do motorista, no carro geralmente cabem quatro pessoas. Então, se for fazer uma travessia, procure chamar alguns amigos, isso ajudará a diluir esse custo.
Abaixo uma lista de travessias em Parques Nacionais brasileiros. A lista não é exaustiva:
Parque Nacional da Chapada Diamantina
Vale do Pati: 3-6 dias; pernoite em barraca e casas de nativosTranssincorá: 8 dias; pernoite em barraca, pousadas e casas de nativos
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
Sete Quedas (somente na época seca): 2 dias; pernoite em barraca; há banheiro secoSão Jorge - Capela (recém inaugurada): 2 dias; pernoite em barraca (parte do percurso coincide com a travessia das Sete Quedas)
Parque Nacional do Caparaó
Casa Queimada - Tronqueira (ou vice-versa): 1-2 dias; pernoite em barraca; estrutura de banheiro dos abrigos pode ser usadaParque Nacional dos Campos Gerais
Passo do Pupo - Buraco do Padre (ou vice-versa): 1-2 dias; pernoite em barraca; estrutura de banheiro e cozinha do Refúgio das Curucacas pode ser usadaParque Nacional do Itatiaia
Ruy Braga: 1 ou 2 dias; pernoite em barracaRancho Caído: 1 ou 2 dias; pernoite em barraca
Serra Negra: 2 dias; pernoite em Serra Negra
Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses
Atins a Santo Amaro: 3-7 dias; pernoite em casas de nativosParque Nacional da Serra da Bocaina
Caminho de Mambucaba (Trilha do Ouro): 3 dias; pernoite em casa de nativos ou acampamentoParque Nacional da Serra do Cipó
Alto Palácio a Serra dos Alves: 3-4 dias (há uma variação para finalizar na Cabeça de Boi); pernoite em barracaParque Nacional da Serra do Gandarela
Transgandarela (ainda não aberta): 5-7 dias para percorrer seus 95km, o trajeto e os pontos de apoio estão em estruturação; pernoite em barracaParque Nacional da Serra dos Órgãos
Petrópolis a Teresópolis: 3 dias; pernoite em barracas; estrutura de banheiro dos abrigos pode ser usada (confira um guia publicado aqui no blog da SPOT)Todo ano novas trilhas, circuitos e travessias são abertos e podem sofrer alterações. Não fizemos todas elas, mas isso é parte da beleza: fazer e refazer em épocas e formatos diferentes.
Seja uma trilha, um circuito ou uma travessia, uma coisa é verdade: você nunca sai dela do jeito que entrou, sempre aprende algo novo, vivencia experiências e se transforma.