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Uma expedição no Atacama | Mulheres e Montanhas

A Aventura de uma Expedição Feminina Independente no Atacama

Aventura

A aventura começou bem antes de chegar em Puna, uma das regiões mais inóspitas do deserto do Atacama. Nos meses que precederam a viagem fomos encobertas por um misto de ansiedade, questionamentos e dúvidas.
Será que vamos conseguir dirigir sem problemas em pleno deserto? E se o carro atolar? E se a gente se perder? E se tivermos problemas com a altitude? Subir o Ojos del Salado, o maior vulcão do mundo com 6890 metros, não seria uma tarefa fácil!


Como tudo começou


A nossa história começou com o sonho de fazer uma expedição feminina independente de alta montanha (sem a contratação de guias especializados). Em Agosto de 2018, após retornar de um curso de gelo na Bolívia, eu entrei em contato com a Anna, convidando-a para fazer uma alta montanha juntas! Na mesma hora ela topou. Isso foi um alívio para mim pois é difícil encontrar outras mulheres corajosas para se jogar no mundo da alta montanha sozinha.
Iniciamos os planos para a nova aventura, em direção ao Cerro Plata (5943m) na Argentina e, a depender das condições, ao Aconcágua (6962m), a montanha na qual Anna havia tentado subir no início do mesmo ano, porém desceu por mau clima.

Acampamento Hoyada, Cerro Plata
Faltando apenas dois meses, Bia que também havia feito o curso de gelo na Bolivia comigo, somou-se ao time.
A expedição foi brindada com o cume do Aconcágua, em Janeiro de 2019. E dessa experiência nasceu o projeto “Mulheres e Montanhas”, que produziu o documentário “Apus”, selecionado para ser exibido no Freeman Film Festival em São Paulo em Setembro de 2019.
“Apus” narra  a historia de três mulheres tão diferentes, mas unidas pela paixão pelas montanhas. Eu, Amanda, 34 anos, publicitária; Anna, 47 anos, terapeuta, mãe de 3 filhos; e Bia, 33 anos, engenheira. Todas escaladoras e montanhistas amadoras, viajantes e amantes da natureza.
A partir disso, assumimos o projeto “Mulheres e Montanhas” com o objetivo de inspirar, motivar e unir, não somente as mulheres, mas todos aqueles que têm o sonho de subir uma montanha de forma independente, de forma autônoma e responsável.
E, assim, já ansiosas por uma nova aventura, após muitas conversas, decidimos partir em direção ao Deserto do Atacama, rumo ao maior vulcão do mundo: Ojos del Salado.

Rumo ao Deserto
A viagem começou dia 25 de dezembro, em direção a Copiapó, no Chile.
Ao chegar no aeroporto, fomos direto ao guichê da locadora, onde havíamos reservado meses antes o nosso carro.
No dia seguinte fomos ao mercado comprar os últimos mantimentos, compramos dois galões de combustível extra e caímos na estrada em direção ao Parque Nevado Três Cruces, mais precisamente ao refúgio Maricunga, ao redor da linda Laguna Santa Rosa (3800m).

Laguna Santa Rosa
 

Preparando o Corpo e a Mente

No dia 27 andamos 14 km a pé para sentir o ar do deserto e dar as boas vindas aos nossos pulmões. Quando se planeja subir uma alta montanha é necessário aclimatar. A aclimatação é um processo orgânico para que o corpo possa adaptar-se a falta de oxigênio que ocorre em altas altitudes. É preciso movimentar-se e subir gradualmente, dia após dia. O processo é delicado e requer muita paciência, esforço e atenção.
Como parte da nossa aclimatação, no dia seguinte, subimos o Cerro Siete Hermanas (4862 metros) e, após 5 horas de caminhada, desfrutamos a linda vista das montanhas e da Laguna Santa Rosa.
Nesse mesmo dia, descemos e saímos em direção a Laguna Verde. E, mesmo contando com mapa e GPS, acabamos nos distraindo e nos perdemos um pouquinho. A princípio bate aquele nervoso, mas, hoje em dia ao recordar, agradeço a linda paisagem que vimos com montanhas imponentes e um colorido muito particular. Chegamos a Laguna Verde (4300m) anoitecendo, onde seria a nossa base nos próximos dias.
 
Acampamento Laguna Verde, Chile
 
Na Laguna Verde há um refúgio construído anos atrás por mineradores, que conta com uma terma em seu interior. Isso proporciona grandes encontros com pessoas do mundo todo. Sempre encontrávamos gente diferente. Montanhistas ou não, todos queriam desfrutar das águas termais.
Ao redor do refúgio, há uma área de camping e muitas termas naturais. O lugar é bem frio e venta bastante, por isso é preciso ter coragem para banhar-se lá!
 
Descendo o Cerro Mulas Muertas a caminho da Laguna Verde
 
No dia 30 era dia de novamente nos mexermos e subirmos mais. O Cerro Mulas Muertas tem sua trilha bem próxima ao refúgio e serve de treino para chegar até 5 mil metros.
 

Acompanhando o Clima 

As montanhas de aclimatação servem também para irmos acompanhando o clima do deserto na região. Quando chegamos lá, reparamos que o clima mudava a partir do meio dia. As manhãs eram normalmente calmas e sem vento, mas no período da tarde entrava uma corrente de ar forte totalmente inesperada (ao nosso olhar).
 
Isso era ótimo para irmos analisando com o prognóstico que recebíamos da nossa Equipe Terra, a maravilhosa Tássia. Ela encaminhava os prognósticos das montanhas mais altas, Nevado San Francisco e Ojos del Salado, para o nosso SPOT X.
 
uso do spot x em montanhas chilenas
 
De acordo com o prognóstico, haveria uma mudança drástica de clima em alguns dias. Uma frente fria iria entrar e teríamos dias de nevascas. Portanto, decidimos mudar os planos para conhecer o nosso desafio final, Ojos del Salado, ao invés de subir o Nevado San Francisco.
 

O Primeiro Encontro com o Ojos del Salado

Refugio Atacama com vista para o Ojos de Salado
O caminho para o Refúgio Atacama (5300m) era difícil, cerca de 20 km de pura adrenalina no meio das areias do deserto.
Um dos itens essenciais para dirigir em um terreno como esse é levar um compressor de ar portátil. Assim, pode-se inflar e desinflar os pneus conforme a altitude e o terreno.
Acampamos no Refúgio Atacama por um dia e de lá partimos caminhando para o refúgio Tejos (5800m) com mochilas pesadas.
 
Bia subindo para Tejos
 
Decidimos conhecer o caminho que nos levaria ao cume do Ojos del Salado e aproveitar um dia bom de subida, e assim, dia 3 saímos às 3h30 da manhã para treinar o processo de ascensão.
Eu, após vomitar várias vezes, retornei. Anna e Bia decidiram seguir mais um pouco, mas retornaram horas depois, reconhecendo que não era momento para ir além, visto que nossa aclimatação ainda era pouca para esse esforço.
 

Administrando Emoções

Nos dias que se seguiram, estávamos totalmente empenhadas em treinar e nos fortalecer para retornar ao Ojos e finalizar a jornada ao cume.
 
Anna subindo o Barrancas Blancas
 
Conhecemos pessoas, trocamos experiências, entrevistamos mulheres incríveis e gravamos muito material para um futuro documentário.
Depois de tantos dias no deserto, era necessário administrar as emoções, que já começavam a dar sinais de muita ansiedade e esgotamento.
Nestes dias a Bia estava bem estranha, muito cansada, distante e bem diferente da Bia divertida que estamos acostumadas. Isso nos chamou a atenção.
Todos os dias continuávamos recebendo mensagens pelo Spot X de nossa amiga Tássia (equipe terra) com prognósticos do clima. E, diante dos dados recebidos, o melhor dia seria justamente a véspera de nosso vôo de volta: dia 11 de Janeiro.
 
Aguardando por melhores tempos na Laguna Verde
 

A Reta Final

Assim, dia 08 partimos novamente ao Refúgio Atacama e no dia seguinte subimos caminhando ao Tejos para levar mais equipamentos e aclimatar.
Nesse dia tivemos a certeza que Bia estava mal. Ela caminhava com muita dificuldade, tossia e mostrava sinais de edema pulmonar.
 
Bia passando mal em Tejos

Ao retornar, conversamos com a chefe de uma expedição Britânica, onde havia um médico, para que pudesse examiná-la. Durante toda a tarde ficamos apreensivas com o que viria. Somente à noite, após exame de ultrassom, feito na barraca (a expedição Britânica contava com uma estrutura incrível!), constatou-se edema nos dois pulmões. A ordem era descer no dia seguinte.
A princípio todas nós queríamos manter o objetivo em vista e permitir que eu e Anna subíssemos e Bia descesse a Copiapó com alguém que fosse também à cidade; porém no dia seguinte, ninguém iria retornar à cidade.
No dia 10, que seria o dia de subir a Tejos e preparar a ascensão do dia 11, buscamos saídas para não termos que desistir após 16 dias de esforço e muito trabalho. A saúde da Bia era prioridade e com muita tristeza, descemos juntas, como uma equipe deve ser. Chegamos à cidade e fomos direto a uma clínica. Bia foi liberada, afinal o edema estava sob controle em baixa altitude.


Os verdadeiros valores

Dia 11, que seria nosso cume, fomos convidadas por nosso amigo Ércio a subir dunas (de carro) e ir à praia, recomendação médica, inclusive, para que Bia se recuperasse. Foi um dia de muita emoção e reflexões sobre a vida e sobre nossas prioridades.
 
abraço final nas Dunas de Copiapó

No dia 12, embarcamos pela manhã conscientes de que tínhamos agido da melhor forma possível, considerando valores como a amizade e a solidariedade, bens preciosos.
Nesta jornada de 16 dias, pessoas maravilhosas cruzaram nosso caminho, trazendo histórias lindas e inspiração para novos e futuros desafios.
Somos mulheres dispostas a seguir em busca de sonhos e realidades, com total alegria de nos permitir sermos livres e corajosas, para fazer valer aquilo que acreditamos!