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Como montar a mochila perfeita: Sistema ABCDEF

Como montar a mochila perfeita: Sistema ABCDEF

DicasParcerias

Por: Alexandre Alves — Guia de Montanhismo e Escalada, e Instrutor da Outward Bound Brasil

Quando falamos em montar a mochila perfeita, o primeiro passo é entender para qual finalidade ela será usada. Afinal, o tipo de atividade que você vai realizar — seja uma travessia longa na Serra da Mantiqueira, um acampamento de fim de semana ou uma escalada na Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí — determina totalmente o que levar e como organizar o equipamento.
Em um trekking de vários dias, por exemplo, três itens formam o que chamamos de “Big 3”: barraca, saco de dormir e mochila. Esses são os equipamentos de maior volume e importância, a base de toda a sua logística na montanha.

A mochila, em especial, é o item essencial para sua atividade outdoor. É nela — ou melhor, dentro dela — que você carrega tudo o que precisa. Por isso, saber organizá-la de forma eficiente, equilibrada e confortável não é só uma questão de praticidade: é o que vai garantir que você realmente aproveite o caminho, sem desconfortos ou dores desnecessárias.

Pode parecer simples, mas organizar uma mochila corretamente é uma das habilidades mais importantes de um montanhista. E, curiosamente, muitas vezes, é deixada de lado. A diferença aparece no detalhe: um objeto pontudo pressionando suas costas, a jaqueta impermeável esquecida no fundo junto ao saco de dormir, bem na hora da chuva, ou aquele canivete que você precisa “pra ontem” e não sabe onde está.

Existem várias maneiras de organizar uma mochila, mas gostamos de aplicar um método simples e funcional: o Sistema ABCDEF, onde cada letra representa um princípio essencial que ajuda a montar uma mochila prática, segura e inteligente.

Antes de iniciar qualquer programa de trekking da Outward Bound Brasil, fazemos o que chamamos de issue (em inglês, expedir ou expedição), que é distribuir todos os equipamentos (individuais e coletivos), verificar o que realmente é necessário para expedição e então começamos a organizar nesse sistema. Muitos participantes se surpreendem ao perceber o quão pouco levamos para o campo, apenas o essencial. Mas, uma vez lá, entendem que a vida em expedição tem demandas muito diferentes que as demandas da cidade.

A – Accessible (Acessível)

Tudo o que você precisa acessar rapidamente deve estar ao alcance das mãos. Pense nos itens que você mais usa durante a trilha — canivete, headlamp, anorak, snacks, protetor solar, óculos de sol, kit de primeiros socorros.
Esses objetos devem ficar em bolsos externos estratégicos, como o da barrigueira ou o compartimento superior (“tampa”/”cérebro”) da mochila. Assim, você não precisa parar toda hora nem revirar tudo para encontrar algo simples.

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(Imagem: Caiano Midam - Far Creative)

B – Balance (Equilíbrio)

A mochila deve ser tratada como uma balança: o peso precisa estar distribuído de forma equilibrada entre os lados e também entre as partes superior e inferior.
Se você sentir uma alça puxando mais que a outra, é sinal de desbalanceamento — algo comum, mas fácil de corrigir.
De modo geral, a organização ideal segue esta lógica:

  • Fundo da mochila: itens médios e volumosos, que serão usados apenas à noite (como o saco de dormir e roupas de pernoite).
  • Costado (parte próxima às costas): os itens mais pesados — barraca, comida, equipamentos de cozinha. Isso ajuda a manter o centro de gravidade próximo ao corpo, reduzindo o esforço ao caminhar.
  • Parte frontal: objetos leves, como roupas e acessórios pequenos.
  • Tampa: itens leves e de acesso rápido, como headlamp e anorak.
Essa estrutura mantém o equilíbrio e torna a caminhada mais confortável.
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(Sugestão de distribuição de peso dentro da mochila e mochila compacta)

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C – Compression (Compressão)

A compressão é tão importante quanto os equipamentos estarem acessíveis e bem distribuídos na sua mochila. Mas entenda que essa ideia de compressão não se aplica apenas à mochila, mas também a como cada item é embalado dentro dela.

Use sacos estanques ou sacos organizadores para agrupar e comprimir o conteúdo, retirando o ar e evitando espaços vazios. Monte a mochila como um quebra-cabeça, onde cada peça se encaixa perfeitamente.

Antes de começar, afrouxe todas as fitas e tiras laterais para aproveitar todo o espaço interno. Depois que tudo estiver acomodado, comprima essas fitas para deixar o conjunto compacto e estável.

Dica de compressão: ao guardar o saco de dormir, não o enrole — apenas “soque” dentro do saco de compressão, começando pelos pés. Assim, o ar sai mais facilmente e o volume final fica bem menor.
Image(Imagem: Caiano Midam - Far Creative)

D – Dry (Seco)

Além de usar sacos estanques (ou plásticos reforçados) para proteger roupas e o saco de dormir, verifique se sua mochila tem tratamento DWR (Durable Water Repellent) e capa de chuva integrada. Esses detalhes fazem toda a diferença em uma chuva inesperada ou uma travessia de rio.

Dica pra manter equipamentos secos: se não tiver um saco estanque, use um saco plástico grosso (como os de gelo). Coloque-o dentro do saco de compressão e, depois, o saco de dormir dentro do plástico, começando pelos pés. Isso praticamente elimina o risco de umidade, mesmo em chuva intensa. Se preferir, pode colocar suas roupas de pernoite juntas ao saco. A chance de entrar água é mínima.

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(Imagem: Caiano Midam - Far Creative)
 

E – Everything Inside (Tudo dentro)

Quem nunca viu — ou foi — o montanhista com a caneca pendurada do lado de fora?
Apesar de comum, pendurar itens externos aumenta o risco de danos, mochila desbalanceada e perda de equipamentos. As mochilas de trekking já possuem bolsos e fitas para isso, mas o ideal é usar com moderação.

Se estiver carregando coisas demais a ponto de precisar pendurar equipamentos, talvez seja hora de repensar o que realmente é essencial. Guarde tudo dentro sempre que possível: além de proteger os objetos, isso mantém o equilíbrio da mochila durante a caminhada.

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(Travessia do Rancho Caído - Parque Nacional do Itatiaia)

F – Fuel (Combustível)

Esse princípio é opcional, mas importante para quem leva fogareiro. Se você usa modelos a benzina (MSR, por exemplo), mantenha a garrafa do lado de fora, em bolsos laterais, evitando contato com alimentos ou roupas — já que a benzina pode contaminar ou danificar equipamentos. Para quem utiliza cartuchos de gás (butano/propano), é seguro levá-los dentro da mochila, desde que estejam bem fechados e com tampa.

E não se esqueça: o descarte desses cartuchos deve ser feito corretamente. A Gear Tips, por exemplo, mantém pontos de coleta em várias regiões do Brasil para dar destino adequado a esses materiais.
 

Ajuste e conforto

Além da organização interna, o ajuste da mochila ao corpo faz toda a diferença. Uma cargueira bem regulada distribui o peso corretamente e evita dores nos ombros e na lombar.

Siga essa ordem ao ajustar:
  1. Solte todas as alças e fitas.
  2. Coloque a mochila e feche primeiro a barrigueira, ajustando-a na linha do quadril.
  3. Em seguida, ajuste as alças dos ombros, puxando para baixo ao mesmo tempo.
  4. Depois, regule as fitas superiores (às que saem acima dos ombros), formando um ângulo de cerca de 45°.
  5. Finalize com a fita peitoral, que ajuda na estabilização.
E lembre-se: um bom planejamento pode salvar sua atividade no ambiente outdoor
Por fim, lembre-se: uma mochila perfeita começa antes da trilha. Planejamento e preparação fazem parte da logística de qualquer atividade outdoor. Escolha uma mochila do tamanho adequado para seu equipamento, evite excessos e busque sempre o equilíbrio entre conforto e funcionalidade. As ideias discutidas não são regras, são fundamentos que ajudam a pensar na sua atividade de maneira segura e busca deixá-la mais divertida.
Seja adepto do ultralight ou do estilo “levo o mundo nas costas”, o importante é que sua mochila seja extensão do seu corpo. 
 

Bons ventos e nos vemos nas montanhas!


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Alexandre Alves ( o Xandão)
Sul-mineiro, nascido em São Lourenço, aos pés da Serra da Mantiqueira, Alexandre Alves — mais conhecido como “Xandão” — é licenciado em Geografia pela UFJF e, desde 2024, atua como instrutor na Outward Bound Brasil. No mesmo ano, concluiu o Curso Técnico de Guia de Turismo pela ETEC-SP. Guia e coordenador das atividades do GECA Montanhismo, operadora de escalada e montanhismo sediada em Itamonte (MG), Xandão reúne uma sólida formação e ampla experiência no setor. É certificado de primeiros socorros em áreas remotas (nível WAFA), Master Educator de Leave No Trace (nível 2), possui cursos básico e avançado de escalada em rocha, certificação em orientação e navegação, além de ser Condutor Credenciado no Parque Nacional do Itatiaia.
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