Quando falamos em montar a mochila perfeita, o primeiro passo é entender para qual finalidade ela será usada. Afinal, o tipo de atividade que você vai realizar — seja uma travessia longa na Serra da Mantiqueira, um acampamento de fim de semana ou uma escalada na Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí — determina totalmente o que levar e como organizar o equipamento.
Em um trekking de vários dias, por exemplo, três itens formam o que chamamos de “Big 3”: barraca, saco de dormir e mochila. Esses são os equipamentos de maior volume e importância, a base de toda a sua logística na montanha.
A mochila, em especial, é o item essencial para sua atividade outdoor. É nela — ou melhor, dentro dela — que você carrega tudo o que precisa. Por isso, saber organizá-la de forma eficiente, equilibrada e confortável não é só uma questão de praticidade: é o que vai garantir que você realmente aproveite o caminho, sem desconfortos ou dores desnecessárias.
Pode parecer simples, mas organizar uma mochila corretamente é uma das habilidades mais importantes de um montanhista. E, curiosamente, muitas vezes, é deixada de lado. A diferença aparece no detalhe: um objeto pontudo pressionando suas costas, a jaqueta impermeável esquecida no fundo junto ao saco de dormir, bem na hora da chuva, ou aquele canivete que você precisa “pra ontem” e não sabe onde está.
Existem várias maneiras de organizar uma mochila, mas gostamos de aplicar um método simples e funcional: o Sistema ABCDEF, onde cada letra representa um princípio essencial que ajuda a montar uma mochila prática, segura e inteligente.
Antes de iniciar qualquer programa de trekking da Outward Bound Brasil, fazemos o que chamamos de issue (em inglês, expedir ou expedição), que é distribuir todos os equipamentos (individuais e coletivos), verificar o que realmente é necessário para expedição e então começamos a organizar nesse sistema. Muitos participantes se surpreendem ao perceber o quão pouco levamos para o campo, apenas o essencial. Mas, uma vez lá, entendem que a vida em expedição tem demandas muito diferentes que as demandas da cidade.
A – Accessible (Acessível)
Tudo o que você precisa acessar rapidamente deve estar ao alcance das mãos. Pense nos itens que você mais usa durante a trilha — canivete, headlamp, anorak, snacks, protetor solar, óculos de sol, kit de primeiros socorros.Esses objetos devem ficar em bolsos externos estratégicos, como o da barrigueira ou o compartimento superior (“tampa”/”cérebro”) da mochila. Assim, você não precisa parar toda hora nem revirar tudo para encontrar algo simples.
(Imagem: Caiano Midam - Far Creative)
B – Balance (Equilíbrio)
A mochila deve ser tratada como uma balança: o peso precisa estar distribuído de forma equilibrada entre os lados e também entre as partes superior e inferior.
Se você sentir uma alça puxando mais que a outra, é sinal de desbalanceamento — algo comum, mas fácil de corrigir.
De modo geral, a organização ideal segue esta lógica:
- Fundo da mochila: itens médios e volumosos, que serão usados apenas à noite (como o saco de dormir e roupas de pernoite).
- Costado (parte próxima às costas): os itens mais pesados — barraca, comida, equipamentos de cozinha. Isso ajuda a manter o centro de gravidade próximo ao corpo, reduzindo o esforço ao caminhar.
- Parte frontal: objetos leves, como roupas e acessórios pequenos.
- Tampa: itens leves e de acesso rápido, como headlamp e anorak.
(Sugestão de distribuição de peso dentro da mochila e mochila compacta)

C – Compression (Compressão)
A compressão é tão importante quanto os equipamentos estarem acessíveis e bem distribuídos na sua mochila. Mas entenda que essa ideia de compressão não se aplica apenas à mochila, mas também a como cada item é embalado dentro dela.
Use sacos estanques ou sacos organizadores para agrupar e comprimir o conteúdo, retirando o ar e evitando espaços vazios. Monte a mochila como um quebra-cabeça, onde cada peça se encaixa perfeitamente.
Antes de começar, afrouxe todas as fitas e tiras laterais para aproveitar todo o espaço interno. Depois que tudo estiver acomodado, comprima essas fitas para deixar o conjunto compacto e estável.
Dica de compressão: ao guardar o saco de dormir, não o enrole — apenas “soque” dentro do saco de compressão, começando pelos pés. Assim, o ar sai mais facilmente e o volume final fica bem menor.
Use sacos estanques ou sacos organizadores para agrupar e comprimir o conteúdo, retirando o ar e evitando espaços vazios. Monte a mochila como um quebra-cabeça, onde cada peça se encaixa perfeitamente.
Antes de começar, afrouxe todas as fitas e tiras laterais para aproveitar todo o espaço interno. Depois que tudo estiver acomodado, comprima essas fitas para deixar o conjunto compacto e estável.
Dica de compressão: ao guardar o saco de dormir, não o enrole — apenas “soque” dentro do saco de compressão, começando pelos pés. Assim, o ar sai mais facilmente e o volume final fica bem menor.
(Imagem: Caiano Midam - Far Creative)D – Dry (Seco)
Além de usar sacos estanques (ou plásticos reforçados) para proteger roupas e o saco de dormir, verifique se sua mochila tem tratamento DWR (Durable Water Repellent) e capa de chuva integrada. Esses detalhes fazem toda a diferença em uma chuva inesperada ou uma travessia de rio.Dica pra manter equipamentos secos: se não tiver um saco estanque, use um saco plástico grosso (como os de gelo). Coloque-o dentro do saco de compressão e, depois, o saco de dormir dentro do plástico, começando pelos pés. Isso praticamente elimina o risco de umidade, mesmo em chuva intensa. Se preferir, pode colocar suas roupas de pernoite juntas ao saco. A chance de entrar água é mínima.
(Imagem: Caiano Midam - Far Creative)
E – Everything Inside (Tudo dentro)
Quem nunca viu — ou foi — o montanhista com a caneca pendurada do lado de fora?
Apesar de comum, pendurar itens externos aumenta o risco de danos, mochila desbalanceada e perda de equipamentos. As mochilas de trekking já possuem bolsos e fitas para isso, mas o ideal é usar com moderação.
Se estiver carregando coisas demais a ponto de precisar pendurar equipamentos, talvez seja hora de repensar o que realmente é essencial. Guarde tudo dentro sempre que possível: além de proteger os objetos, isso mantém o equilíbrio da mochila durante a caminhada.

Apesar de comum, pendurar itens externos aumenta o risco de danos, mochila desbalanceada e perda de equipamentos. As mochilas de trekking já possuem bolsos e fitas para isso, mas o ideal é usar com moderação.
Se estiver carregando coisas demais a ponto de precisar pendurar equipamentos, talvez seja hora de repensar o que realmente é essencial. Guarde tudo dentro sempre que possível: além de proteger os objetos, isso mantém o equilíbrio da mochila durante a caminhada.

(Travessia do Rancho Caído - Parque Nacional do Itatiaia)
F – Fuel (Combustível)
Esse princípio é opcional, mas importante para quem leva fogareiro. Se você usa modelos a benzina (MSR, por exemplo), mantenha a garrafa do lado de fora, em bolsos laterais, evitando contato com alimentos ou roupas — já que a benzina pode contaminar ou danificar equipamentos. Para quem utiliza cartuchos de gás (butano/propano), é seguro levá-los dentro da mochila, desde que estejam bem fechados e com tampa.E não se esqueça: o descarte desses cartuchos deve ser feito corretamente. A Gear Tips, por exemplo, mantém pontos de coleta em várias regiões do Brasil para dar destino adequado a esses materiais.
Ajuste e conforto
Além da organização interna, o ajuste da mochila ao corpo faz toda a diferença. Uma cargueira bem regulada distribui o peso corretamente e evita dores nos ombros e na lombar.Siga essa ordem ao ajustar:
- Solte todas as alças e fitas.
- Coloque a mochila e feche primeiro a barrigueira, ajustando-a na linha do quadril.
- Em seguida, ajuste as alças dos ombros, puxando para baixo ao mesmo tempo.
- Depois, regule as fitas superiores (às que saem acima dos ombros), formando um ângulo de cerca de 45°.
- Finalize com a fita peitoral, que ajuda na estabilização.
Por fim, lembre-se: uma mochila perfeita começa antes da trilha. Planejamento e preparação fazem parte da logística de qualquer atividade outdoor. Escolha uma mochila do tamanho adequado para seu equipamento, evite excessos e busque sempre o equilíbrio entre conforto e funcionalidade. As ideias discutidas não são regras, são fundamentos que ajudam a pensar na sua atividade de maneira segura e busca deixá-la mais divertida.
Seja adepto do ultralight ou do estilo “levo o mundo nas costas”, o importante é que sua mochila seja extensão do seu corpo.
Bons ventos e nos vemos nas montanhas!
Alexandre Alves ( o Xandão)
Sul-mineiro, nascido em São Lourenço, aos pés da Serra da Mantiqueira, Alexandre Alves — mais conhecido como “Xandão” — é licenciado em Geografia pela UFJF e, desde 2024, atua como instrutor na Outward Bound Brasil. No mesmo ano, concluiu o Curso Técnico de Guia de Turismo pela ETEC-SP. Guia e coordenador das atividades do GECA Montanhismo, operadora de escalada e montanhismo sediada em Itamonte (MG), Xandão reúne uma sólida formação e ampla experiência no setor. É certificado de primeiros socorros em áreas remotas (nível WAFA), Master Educator de Leave No Trace (nível 2), possui cursos básico e avançado de escalada em rocha, certificação em orientação e navegação, além de ser Condutor Credenciado no Parque Nacional do Itatiaia.
Sul-mineiro, nascido em São Lourenço, aos pés da Serra da Mantiqueira, Alexandre Alves — mais conhecido como “Xandão” — é licenciado em Geografia pela UFJF e, desde 2024, atua como instrutor na Outward Bound Brasil. No mesmo ano, concluiu o Curso Técnico de Guia de Turismo pela ETEC-SP. Guia e coordenador das atividades do GECA Montanhismo, operadora de escalada e montanhismo sediada em Itamonte (MG), Xandão reúne uma sólida formação e ampla experiência no setor. É certificado de primeiros socorros em áreas remotas (nível WAFA), Master Educator de Leave No Trace (nível 2), possui cursos básico e avançado de escalada em rocha, certificação em orientação e navegação, além de ser Condutor Credenciado no Parque Nacional do Itatiaia.