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Banho de Floresta: reconexão com a natureza e novas formas de estar ao ar livre

Banho de Floresta: reconexão com a natureza e novas formas de estar ao ar livre

Para InspirarParcerias

São Bento do Sapucaí, sob os pés da Pedra do Baú. Penúltimo dia do programa Entorno oferecido pela Outward Bound Brasil onde jovens da escola estadual Dr. Genésio Cândido Pereira vivenciaram uma imersão de cinco dias em áreas naturais no entorno de seu município com foco no estreitamento da sua relação com a natureza, desenvolvimento de liderança, habilidades socioemocionais, cuidado coletivo, tomada de decisão, manejo de risco e promoção do desenvolvimento sustentável na região.


O grupo se preparava para subir ao cume da Pedra do Baú. Porém, a atmosfera era de expectativa e incerteza por conta de uma tempestade na noite anterior, o amanhecer com o céu fechado, raios e trovões ao longe. A montanha e o horizonte estavam encobertos — víamos apenas a floresta ao redor, envolta em névoa. Diante desse cenário, precisávamos mudar o plano. Foi então que se abriu uma nova possibilidade: em vez da ascensão física até o cume, propusemos um mergulho sensorial e contemplativo — uma experiência inédita nos programas da Outward Bound Brasil: o Banho de Floresta.


Nos reunimos às margens da Floresta. Conversamos sobre a dinâmica da experiência, nossas intenções, os cuidados necessários e sobre a ecologia viva e inteligente da floresta. Entramos como quem entra na casa de outra pessoa. Com atenção e respeito, caminhamos devagar, adentrando a floresta aos poucos, ampliando a percepção sensorial a partir de atividades focadas.
De olhos fechados, ouvimos as gotas d’água tocando o solo, o mover das folhas ao vento, a presença dos animais. Respiramos o cheiro da terra molhada, da névoa e dos aromas despertos pela umidade. Tocamos cascas, musgos, folhas e brotos com a delicadeza de quem toca algo sagrado.


Na parte final do Banho de Floresta caminhávamos em sintonia fina com o espaço, num silêncio amplo, vivenciando os encontros a partir de novos referenciais: intimidade, confiança e curiosidade.

Os relatos que vieram durante a partilha de integração ao final do Banho de Floresta continham um tom de reverência, surpresa, encantamento, maravilhamento, descoberta, pertencimento, espelhamento e… autoconhecimento. O medo da aranha deu lugar ao olhar curioso para as tramas multicoloridas das teias, aos seres que às tecem, e ao sentimento que nasce no corpo fruto deste encontro; o receio de tocar e ser tocada deu lugar ao cochilo profundo sobre o solo macio; o pesar das memórias de luto e transformação foram revividas e resignificadas no encontro com uma árvore em decomposição…. O encontro com a floresta se revela como um encontro consigo, uma via direta para nossa memória de espécie, para algo muito antigo em nós: Biofilia - A capacidade inata de nos vincularmos afetivamente e em relação de reciprocidade com todos os seres do mundo natural. Como consequência desta experiência, nasce (relembramos) o sentimento profundo de pertencimento, sentir-se parte de uma realidade interconectada da qual somos expressão.


Naquele momento, aquela floresta, e provavelmente todas as outras, frequentemente compreendidas como “mato”, tornaram-se presenças vivas, inteligentes, participativas, companheiras, encantadoras e misteriosas. Para a maioria neste grupo de adolescentes essa experiência reverberou como um rito de passagem. Uma fronteira demarcando a iniciação em uma nova (ou muito antiga) forma de se relacionar com o mundo vivo, por meio do sentir, da curiosidade e do afeto. O impulso radical pela preservação e pela regeneração dos ambientes naturais que nasce desta experiência encontra suas raízes no sentimento de pertencimento e vinculação afetiva com o território e com os seres que o habitam através da experiência direta de conexão.

Distantes do cume e de nossos objetivos iniciais, encontramos algo inesperado: um vínculo com a Terra em que caminhamos, com os seres que nos cercam, com a Floresta, com o Entorno… Conosco. Uma experiência de entrega, de expansão da zona de conforto, da prática do encontro curioso e do silêncio contemplativo. Entramos em contato direto com a linguagem da natureza em nós ao nos abrirmos às imagens, pensamentos, sentimentos, sensações e memórias que emergem de cada encontro. Nutrindo um pouco mais a confiança no que sentimos como bússola para navegar na incerteza destes tempos de adolescência e de transição climática (interna e externa).


A crise climática em nosso planeta é, antes de tudo, reverberação de uma crise da percepção e da consciência humana; A devastação dos ecossistemas externos é uma consequência direta da devastação dos nossos ecossistemas internos. Cabe a nós nutrir, em nosso cotidiano e em todas as nossas aventuras, uma presença mais atenta, curiosa, aberta ao encontro, empática, responsável e disponível ao sentir. O relato acima descreve uma situação real, similar a inúmeras outras, onde através do encontro sensível podemos renovar nossa vinculação com o mundo natural, com nossas paisagens emocionais internas e com a regeneração de todos os nossos vínculos. Para isso precisamos de práticas que nos ajudem a relembrar. Essa é mais uma entre tantas.


A prática do Banho de Floresta é originalmente conhecida como Shinrin-yoku, que pode ser traduzida como estar imerso/a na atmosfera da floresta com todos os sentidos despertos. É uma prática terapêutica/contemplativa desenvolvida no Japão e que hoje já se espalhou pelo mundo todo. Atualmente figura como o campo com maior número de pesquisas científicas no segmento “Saúde e Natureza”. As evidências dos benefícios da prática do Banho de Floresta para a Saúde Humana são extensas, transitando por temas como hipertensão, doenças cardíacas, saúde mental, doenças respiratórias, câncer, etc… você pode ter acesso a uma revisão do atual estado da arte através deste link.


Além da dimensão da saúde física, a prática do Banho de Floresta tem um profundo impacto na dimensão existencial. Há muitas formas de se conduzir um Banho de Floresta. Cada metodologia traz seu enfoque particular na condução dos banhos e no manejo dos conteúdos que emergem da experiência. A condução do Shinrin Yoku descrita acima foi feita sob uma perspectiva ecopsicológica, onde, desde o início, os convites a vivenciar os encontros são feitos a partir da percepção e do entendimento de que estamos adentrando uma realidade viva, inteligente, da qual somos parte. A prática é conduzia a partir da compreensão de que a qualidade terapêutica dos encontros, da relação de espelhamento e do consequente fortalecimento da vinculação profunda de pertencimento com a natureza são elementos essenciais no processo terapêutico, de autoconhecimento e da regeneração dos nossos vínculos com todos os seres. Habilidades estas que são fundamentais para que possamos atravessar os tempos de crise climática atuando de maneira intencional e consciente.

“Já ouvi nossos anciãos darem conselhos como “Você deveria se juntar às Pessoas em Pé (árvores)” ou “vá passar algum tempo com o povo de Castores”.
Eles nos lembram da capacidade dos outros (seres) como nossos professores, como detentores de conhecimento, como guias. Imagine caminhar por um mundo ricamente habitado pelo povo das Bétulas, pelo povo de Ursos, pelo povo das Rochas, seres que consideramos e, portanto, nos referimos como pessoas dignas de nosso respeito, de inclusão em um mundo povoado. 
(...)
Imagine o acesso que teríamos a diferentes perspectivas, as coisas que poderíamos ver através de outros olhos, à sabedoria que nos rodeia. Não precisamos descobrir tudo sozinhos: existem outras inteligências além da nossa, professores ao nosso redor. Imagine como o mundo seria menos solitário.”
Robin Wall Kimmerer - Braiding Sweetgrass p.58 (2013)

Para saber mais sobre o Programa Entorno acesse:
https://outwardbound.org.br/projeto-entorno/
https://outwardbound.org.br/ampliando-horizontes-a-transformacao-social-do-projeto-entorno/
Para saber mais sobre o Banho de Floresta e pesquisas realizadas atualmente no Brasil acesse:
https://ecopsicologiabrasil.com/banho-de-floresta/
https://fiocruz.br/sites/fiocruz.br/files/documentos_2/termo_de_referencia_banho_de_floresta.pdf

Fotos: Leandro Cagiano


Arthur Tobias é psicólogo formado pela PUC-SP e Ecopsicólogo formado pela International Ecopsychology Society (IES). Socorrista em áreas remotas (WFR) e Master Educator Leave No Trace em técnicas de mínimo impacto.
É membro da equipe gestora do Instituto Brasileiro de Ecopsicologia (IBE), guia de Banho de Floresta e educador nas formações de Guias de Banho de Floresta/Terapia Florestal e Ecotuner. Instrutor nas ONGs Outward Bound Brasil e NOLS, onde atua como educador experiencial ao ar livre liderando expedições com crianças, jovens e adultos.
Desde 2013 atua na intersecção entre psicologia, educação, saúde e natureza, atendendo como ecopsiterapeuta clínico e conduzindo formações junto a Escolas, Sesc, Prefeituras e outras instituições.
Em 2015 fundou “Retorno ao Sutil” onde oferece trabalhos de acompanhamento e mentoria individuais voltadas ao envolvimento humano integrado aos ciclos naturais. Também oferece grupos de estudo integrando Astrologia, Ecopsicologia, Taoísmo e outros campos de pesquisa, com foco no autoconhecimento, pertencimento, construção de comunidade e aprendizagem de práticas de cuidado ecocentradas.
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