Lá se foram 9 meses de expedição e 21 parques nacionais. Estamos seguindo nosso cronograma, visitando um parque nacional em média a cada 15 dias. Isso nos permite não somente conhecer as belezas e questões locais, mas também fazer amigos e ter tempo para o inesperado.
Quando nos pedem dicas sobre visitar parques naturais, sejam nacionais, estaduais, florestas, reservas particulares, acreditamos que o mais importante é programar tempo para o inesperado, não ir com o tempo apertado e a agenda cheia.
As informações sobre o que fazer nem sempre estão completas em pesquisas pela internet. A gente se surpreende em todos os parques com histórias e ideias que os locais nos passam sobre o que visitar e conhecer. Há sempre uma nuance da estação do ano, da fase da lua, do dia da semana. Ir a um parque nacional e ter tempo livre para conhecer algo além do roteiro básico é o que faz a diferença, é quando as histórias que mais guardamos são vividas.
Nos últimos 5 meses visitamos os 13 parques nacionais da região Sul (você sabia que eram 13?), percorrendo cerrado, mata atlântica, pampas, rios, cachoeiras, picos, vales, praias, alto mar; vivendo embaixo de araucárias, de chapéus de sol, de ipês e goiabeiras; vendo gralhas azuis, jacutingas, veados, bugios, quatis, macacos-prego, cactos bola, rainhas do abismo, canelas pretas, jaracutiás e perobas rosas de mais de 600 anos de idade.
Para comemorar, seguem algumas dicas para quem for visitá-los. Em nosso site você encontra uma descrição mais completa; em nosso canal no YouTube os vídeos estão organizados em uma playlist da região Sul.
Aparados da Serra
É possível avistar gralhas azuis no caminho entre o centro de visitantes e a borda do cânion Itaimbezinho, recomendamos fazer a trilha sem pressa e prestando atenção ao movimento e aos sons; a trilha do Rio do Boi tem muito além daquele lindo paredão no final, é cheia de história e percorre uma belíssima mata, cruzando duas cachoeiras!
Araucárias
Um parque pouco conhecido e visitado no Oeste de SC, com trilhas bem organizadas que levam a uma cachoeira, a um poço para banho, além de avistamento de aves. Há também uma trilha própria para passeios noturnos e avistamento de fauna. Aqui aprendemos na prática sobre florestas nativas e plantações de pinus e eucaliptos, vendo a evolução da recuperação ambiental na prática.
Campos Gerais
Nos últimos meses este parque parece ter ganho uma maior notoriedade e visitação, o que é ótimo! Os Campos Gerais são compostos de savana (campos sulinos) no plano, alternados com floresta de araucárias, nas furnas, além dos musgos nas paredes das fendas. Recomendamos uma imersão em uma das furnas para ter a visão completa e uma vivência inesquecível e transformadora neste parque.
Guaricana
Este parque fica perto de Curitiba, mas ainda pouco explorado pelo turismo. Além dos picos para os quais há trilhas pouco demarcadas, na face leste há uma série de rios que podem ser "subidos" em um aquatrekking. Além de levar a cachoeiras e poços, o passeio em si, mesmo que não chegue até elas, é belíssimo e muito rico em termos de fauna e flora.
Iguaçu
Este parque é o segundo mais antigo do Brasil e vai muito além das Cataratas. Em Foz, optamos por fazer o trajeto até as cataratas de bicicleta, aproveitando cada minuto nessa mata primária. Mas também entramos em cachoeiras em Capanema, na face sul, e fizemos trilhas muito bem sinalizadas, a pé e de bicicleta, nas cidades de Céu Azul, Serranópolis do Iguaçu e São Miguel do Iguaçu. A nossa recomendação é não se restringir às belíssimas e imperdíveis cataratas!
Ilha Grande
No último pedaço remanescente do Rio Paraná como rio, e não como represa de uma hidrelétrica, é possível dar uma volta de caiaque, ver a imensidão deste "rio-mar" (significado de Paraná, do tupi), remar até uma praia a partir de Porto Camargo. De Guaíra há passeios para o sul da Ilha Grande, passando pela Lagoa Saraiva, um santuário e berçário de vida aquática, mamíferos e aves.
Ilhas dos Currais
O menor parque nacional brasileiro em área é onde vivem e se reproduzem dezenas de milhares de aves. Não é permitido descer nas três ilhas, mas é permitido se banhar no mar cristalino, mergulhar e sentir o poder das aves que habitam esse local, tranquilas e seguras. Se não puder ir até lá, não deixe de avistar suas ilhas a partir de Pontal do Paraná e conhecer sua importância através da Associação Mar Brasil.
Lagoa do Peixe
Unânime em termos de avistamento de aves, este parque é muito bem conhecido pelos "birdwatchers". Pudera, são tantas espécies que vivem ou passam por ali ao ano, cada uma com um bico e corpo adaptados à alimentação. O espetáculo do talha-mar, pescando enquanto voa, a história dos maçaricos, que voam mais de 35 mil quilômetros em um ano, a delicadeza dos colhereiros e o porte dos cabeça-seca, mostram que este parque tem uma importância continental na conservação das espécies.
Saint-Hilaire/Lange
Quantas pessoas passam direto de Curitiba a Matinhos e Caiobá sem parar nesse parque, repleto de trilhas e cachoeiras, com um dos maiores picos do estado? Há trilhas de todo nível de dificuldade, todas com belezas incontestáveis e oportunidades de estar em meio à mata atlântica preservada. O parque tem um blog com dicas e mapeamento de trilhas para não deixar dúvidas onde e como ir conhecê-lo.
São Joaquim
Além na neve e da Pedra Furada, nos surpreendemos com os cânions e a visão dos picos deste parque. Mas o que mais chamou a atenção foi a alternância entre floresta de araucárias, campos de altitude e floresta de xaxins gigantes, algo que nunca havíamos visto e provavelmente não voltaremos a ver em outros lugares. Um dos parques mais bem organizados em que já estivemos, resultado de muito trabalho e muito apoio de voluntariado.
Serra do Itajaí
Neste parque chama a atenção a participação da sociedade civil. Seja mais perto de Blumenau, no belíssimo e delicioso Parques das Nascentes gerido pelo IPAN, ou em Guabiruba com apoio da ASSEPAVI. São eles que abrem e mantêm trilhas, interagem entre os diversos órgãos governamentais, atraem e educam turistas. Na nossa humilde ignorância, não sabíamos de metade da beleza deste estado, que é conhecido pelas praias, neve e cerveja, antes de ser conhecido pela sua mata e cachoeiras.
Serra Geral
O irmão mais novo de Aparados da Serra tem, além do belíssimo e imponente cânion Fortaleza, uma série de cânions para serem conhecidos por dentro, a partir de Praia Grande e Jacinto Machado em SC. Foi neste parque que concretizamos que um dos nossos formatos preferidos de trilha é subir um rio, e ali as oportunidades são muitas e muito diversas entre si!
Superagui
A praia deserta tem uma importância fundamental em todo o litoral, suas camadas até a floresta mais adentro alternam-se com alagados onde encontram-se orquídeas. Papagaios-de-cara-roxa, jacarés-de-papo-amarelo, micos-da-cara-preta, botos estão entre as espécies protegidas e que podem ser avistadas nesse parque. Recomendamos visitá-lo em qualquer momento, exceto novembro, quando as butucas ou mutucas tomam o espaço.
As fotos desta postagem foram tiradas nos parques nacionais das Araucárias e do Iguaçu.