Em 20 anos de escalada eu nunca sofri um acidente. Alguns arranhões e hematomas aqui e ali, mas nada grave.
No começo desse ano viajei para a Jordânia pra gravar o sétimo e último episódio da série Elementos Extremos pro Canal OFF. O tema pra encerrar era ROCHA e meu objetivo era escalar, entre outras paredes, um big wall apelidado de GoldFinger, uma via de 180 metros de altura, no meio do deserto de Wadi Rum.
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Claro que me propus um desafio maior do que eu já havia feito. Normalmente sou assim. Priorizo a segurança mas gosto de testar meus limites. O lugar era espetacular, cheio de energia boa e eu estava num dia ótimo, me sentindo hiper confiante. Não apenas quis escalar uma via nova como ainda decidi guiar essa escalada na sua cordada mais difícil.
Depois de mais de 3 cordadas conquistadas com sucesso, já estávamos a mais de 120 metros do chão, no CRUX DA VIA (sua parte mais técnica) onde eu tinha que entalar as mãos e os pés nas fendas da rocha. Já tinha passado a ultima proteção há alguns metros e quando estava quase colocando a próxima - escorreguei. Caí uns 6 metros e fiquei pendurada pela corda que segurou mas não impediu que eu batesse o pé esquerdo na rocha e foi o que me impediu de dar com cara, a bacia, as costelas na parede.
Enfim, o resultado foi uma fratura gravíssima de tíbia e fibula, chamada de "fratura intra-articular cominutiva", isso significa que tive meu tornozelo estilhaçado em mais de dez pedaços. Com a perna assim tive ainda que fazer alguns rapéis pra descer pra base. Depois, o resgate durou ainda mais umas 2 horas para eu chegar em um posto de saude militar proximo a Aqaba.
Tive alguns problemas com meu seguro de viagem que se recusaram a entender o tamanho da minha lesão e não ajudaram na hora de remarcar minha passagem. Além de toda dor e da situação bem chata tive que ficar brigando e atrasei alguns dias pra retornar a Sao Paulo, de onde segui diretamente do aeroporto de Guarulhos para a sala de cirurgia. Fui submetida a 6 horas de cirurgia onde ganhei três placas e doze parafusos na perna. E agora ainda estou fazendo fisioterapia e torcendo pela minha recuperação plena para que eu possa voltar a fazer tudo o que amo.
Saindo com uma grande lição, alguns metais no corpo e grata aos meus apoiadores SPOT, porque se pude me manter calma durante todo esse acidente, foi porque estava com meu SPOT pendurado na mochila. E a qualquer momento que apertasse aquele botão sabia que eles estariam la pra mim.