Em 2014, aos 27 anos do alto da montanha, para ser mais precisa, do Morro Araçatuba - PR, em um momento de contemplação, paz e tranquilidade que só a natureza pode nos proporcionar, pude ouvir o assobio do vento passando pelo perfil de um velame, um som tão agradável aos ouvidos e uma imagem tão harmoniosa aos olhos, onde um voo tranquilo e suave de pôr do sol me fez despertar um novo sentimento. Aqui começa minha trajetória no Voo Livre.
Tendo como primeira paixão o Montanhismo, nada melhor que unir montanha e voo livre no melhor dos estilos, o Hike and Fly, subir a montanha andando e descer voando.
No Hike and Fly já alcancei algumas conquistas, como fazer a travessia da Serra do Mar do Paraná, decolando do Morro Anhangava, Quatro Barras - PR, pousando em Morretes - PR. Sobrevoar o berço da história do Montanhismo, o Conjunto Marumbi, sem dúvida para um montanhista é uma proeza sem igual, e ser a primeira mulher realizar tal feito, tem um sabor mais que especial.
Entre rampas e montanhas, novos sonhos e projetos foram sendo idealizados, onde um deles era decolar da Pedra da Mina. Numa bela manhã de julho de 2016, fizemos a primeira tentativa de subir a quarta montanha mais alta do Brasil, com seus 2.798m no ponto mais alto da Serra da Mantiqueira. Ao lado do meu parceiro e namorado, começamos a empreitada na sexta-feira pela manhã, no aeroporto de Curitiba, até São Paulo, onde encontramos alguns amigos e seguimos de carro até Passa Quatro – MG, dando início à caminhada à meia-noite daquele mesmo dia. Paramos para um cochilo no meio da trilha e chegamos ao cume por volta das 11h da manhã. Para nossa decepção, o vento que era previsto de fraco a moderado estava de forte para muito forte! Sentamos e esperamos, o vento deu “uma pequena baixada”, mas não o suficiente para que nos levasse em segurança até o pouso. Ok, então vamos descer. Isso não estava previsto. Já muito cansados, eu com aproximadamente 18kg nas costas, temperatura caindo, pouca água e alimentos, então era o que nos restava. Chegamos à base da fazenda às 23h do sábado. Procuramos um hotel, e ali despejamos nossos corpos exaustos. Dia seguinte, tristes por não ter rolado o Fly mas felizes pelo Hike, voltamos para casa com a promessa de retornar e concluir esse desafio.
![]()
Enfim retornamos em junho de 2019, agora mais leve, com equipamento pesando aproximadamente 12 kg, previsão perfeita, pé na estrada! Saímos de Curitiba no final de tarde de uma sexta-feira. Início da madrugada já estávamos na base da trilha do Paiolinho que dá acesso à Pedra da Mina.
Nos acomodamos e descansamos até as 5h da manhã, quando começaram a chegar outros integrantes da empreitada. Tomamos um gostoso café da manhã e às 6:20h iniciamos a caminhada. Foi difícil acompanhar os amigos paulistas, mas o céu azul e o visual deslumbrante das montanhas da Mantiqueira me dava mais garra e motivação, e com muita determinação, às 11:50h estavamos na rampa.
Como o nome mesmo diz, previsão é apenas uma previsão. Para meu “desespero” conforme o cume se aproximava, nuvens iam encobrindo a Pedra da Mina, e por ali permaneceram por horas. Então a dúvida mais uma vez pairou sobre o ar: também não será dessa vez?
Mas com amigos positivos e muito bem humorados, aguardamos o tempo suficiente até que pequenas “janelas” foram surgindo. Períodos curtos de abertura entre as nuvens foram aparecendo. Um minuto, dois e três minutos, esses eram os intervalos dessas pequenas aberturas de nuvens, as “janelas”, tempo suficiente para conseguirmos visualizar a montanha à frente, que leva o apelido de “o enganador”, que deveria ser contornado para então acessar o vale e poder pousar em segurança aos pés da Serra.

Em uma dessas janelas, enfim conseguimos decolar. Felicidade imensurável de poder contemplar o visual de cima dessa serra belíssima, sentir aquele vento gelado no rosto com o brilho do sol se ensaiando para se pôr, e aquele, “aquele” assovio do velame e nada mais. Além de feliz, de certa forma os sentimentos foram acalentados pelo alívio de descer voando, onde agora só me restava agradecer a Deus e à Mantiqueira por permitir realizar mais esse sonho. Projeto realizado, conquistas alcançada e mais uma montanha para currículo como a primeira mulher a decolar solo da Pedra da Mina, a quarta montanha mais alta do nosso Brasilzão!

Hoje, além do Hike’n Fly, novos projetos vem dando espaço para essa vida de voo livre. Montanhas e competições vem caminhando lado a lado. Novas conquistas foram alcançadas e sonhos realizados, então em 2018 resolvi dar um passo a mais e me aventurar no mundo das competições, iniciando pelos primeiros Campeonatos de Parapente Estaduais, o Paranaense. Um 2018 de muitos resultados positivos se inicia uma bela trajetória de competições, onde respeito, segurança, paciência e limites servem de lição para a evolução no Voo Livre. Objetivos foram traçados, para que as conquistas fossem alcançadas, medos respeitados para que o voo do dia seguinte sempre fosse o melhor voo do que o de ontem.
O peso e a responsabilidade das provas são sentidos no dia a dia dos treinos, no compromisso, na disciplina e na dedicação ao esporte, assim como as montanhas impõem alguns limites e respeito. É como uma paixão avassaladora que poucas pessoas são capazes de compreender e vivenciar. Exige força física e mental. Estratégia, constância, comprometimento e empenho.
Hoje meu objetivo é superar grandes desafios e revelar às pessoas que não existe impossível quando se tem vontade. Seja na vida, na montanha ou no ar. Sempre para o alto e avante!