Uma das marcas deixadas pela Civilização Inca foi a construção de um extenso sistema de rotas, trilhas e estradas na América do Sul. Decidi percorrer estes caminhos de moto, talvez uma das formas mais emocionantes de viajar pela história dos Incas. Sentir no próprio rosto o vento gelado que um dia tocou a face de cada um deles, atravessar desertos, desafiar a altitude da Cordilheira dos Andes, visitar múmias e caminhar pelas ruínas de Machu Picchu.
A Expedição Rutas Incas teve início em agosto de 2016. Viajei por 6 países (Bolívia, Peru, Chile, Argentina, Paraguai e Brasil), durante quarenta dias, num percurso de 13.200 Km. Não tenham dúvidas de que o rastreador SPOT Gen3 foi um fiel companheiro! Logo nos primeiros dias da aventura encontrei um casal de brasileiros (Alexandre e Priscila) que também viajava de moto. Decidimos fazer o trecho da Bolívia juntos e bastaram poucos quilômetros para termos aquela sensação de que éramos amigos há anos!
No dia 04 de agosto de 2016, passamos por Aiquile, Sucre, Chataquila, até alcançarmos o topo da Cordilheira de los Frailes (3.700 m de altitude). O casal catarinense seguiu na frente e eu fiz questão de parar alguns instantes para contemplar a paisagem. No alto da cordilheira uma placa indicava o início da famosa Trilha Inca, ideal para mochileiros e praticantes de trekking. Iniciamos a descida por uma estrada de terra sinuosa que nos levou ao centro da Cratera de Maraguá, onde existe um vilarejo habitado pelos indígenas da cultura Jalq’a.
A região é famosa por ser uma formação geológica em forma de uma concha marinha gigante, pelos rastros e pegadas de dinossauros e pela produção artesanal dos tecidos clássicos de Jalq’a, estampados com figuras de demônios e animais extravagantes, com predominância das cores vermelha e preta. As crianças do vilarejo fizeram questão de recepcionar os “vilarejos” que acabavam de chegar em motos empoeiradas. Aproveitei a oportunidade para distribuir as bexigas que trazia em minha bagagem. É inexplicável que um presente tão simples desperte tamanha alegria. O sorriso de cada criança era o prenúncio do que vinha pela frente!
Rodamos de moto pelas redondezas, curtimos o pôr do sol e logo que anoiteceu recebemos um convite inusitado. Crispin Ventura, um nativo de Maraguá, foi até nosso alojamento e nos convidou para um sarau que aconteceria em sua moradia.
É claro que aceitamos o convite! Encaramos o frio e a escuridão da noite até encontrarmos o “Museo Apus”, onde mora Crispin. Fomos recebidos de forma calorosa pelos seus amigos e familiares. Posso afirmar que foi um dos lugares mais exóticos onde já estive. Apenas uma fogueira iluminava o quintal da pequena casa de adobe. Nosso teto era o céu estrelado. O clima era de alegria.
Além de nos contarem como cultuam sua história e suas raízes indígenas, nossos anfitriões nos ofereceram uma bebida local (era forte, pelo que me lembro) e a oportunidade de interagir na celebração. Misturados aos nativos de Maraguá, dançamos em círculo, cantamos e “tentamos” tocar seus instrumentos musicais andinos. Uma festa surreal! O som da quena, do charando, da zampoña e de nossas risadas jamais serão esquecidos! Foi uma noite mágica!