Prólogo
Há cerca de três anos comecei a acompanhar as aventuras em alta montanha do Hélio Fenrich no AventureBox e conheci o projeto dos 7 Cumes de modo independente que ele vem realizando. No ano passado tive a oportunidade de assistir a palestra sobre a conquista da Denali no Alasca e conhecê-lo pessoalmente. Nessa palestra soube que estava organizando um grupo e guiando algumas altas montanhas como uma forma de financiar o projeto do Monte Everest no Nepal. Bazinga! Uma forma perfeita de subir mais um degrau no montanhismo, ajudar um amigo em um projeto incrível que já nos deu tanta inspiração aqui na rede e ao mesmo tempo embarcar para um destino fantástico – Puente del Inca x Confluencia, no Parque Provincial do Aconcágua.
Para quem não conhece, o Aconcágua é a montanha mais alta das Américas e também a mais alta fora da Ásia, com 6.960 metros de altitude. A montanha fica localizada na Cordilheira dos Andes, na província de Mendonza, na Argentina, próxima à divisa com o Chile.
Em 1983, o governo argentino criou o Parque Provincial do Aconcágua, que abriga uma série de trilhas e outras montanhas da região. O parque conta com uma boa infraestrutura de apoio aos montanhistas, com guarda-parques, médicos e helicópteros.
Mendonza x Puente Del Inca
No dia 06 de janeiro, saí de Curitiba rumo a Mendonza e minha primeira parada foi em Buenos Aires para uma escala. Nessa viagem minha escala chegava no aeroporto de Ezeiza, que fica mais afastado do centro de Buenos Aires, e depois saía do Aeroparque perto do litoral. Uma dica para quem for fazer alguma viagem para Argentina com escala em Buenos Aires é tomar cuidado com o tempo dessa troca de aeroportos. Levei cerca de duas horas de van para cruzar a cidade.
Cheguei em Mendonza por volta das 23h e peguei um táxi para a região central, na Godoy Cruz com a 9 de Julio. O táxi em Mendonza tem um preço bom e todo o trajeto do aeroporto até o hotel ficou em torno de R$ 35,00. Lá encontrei dois dos amigos que iriam embarcar conosco no Trekking, o Antônio e a Lina.
No dia seguinte, logo pela manhã tomamos o café e encontramos o restante do grupo, Hélio e Fernanda. Toda galera com uma boa experiência em trekking e montanhas no Brasil e no exterior! Eu e Antônio viemos para o trekking até a Plaza de Mulas e Cerro Bonete, e a Lina e Fernanda, que já acumulam alguns dos 7 cumes, iriam tentar com o Hélio o cume do Aconcágua.
Revisamos os equipamentos e fomos retirar os “permisos” (permisões do governo para entrada no parque). O valor do trekking longo (7 dias) estava em torno de US$ 250 e o cume por volta de US$ 600. Depois passamos numa loja para alugar alguns equipamentos que faltavam. Por fim fomos às compras de comidas e lanches e partimos no meio da tarde em uma van indicada pela agência para Puente del Inca, uma vila próxima a Penitentes, perto da entrada do Parque.
A estrada principal sai de Mendonza e logo começa a passar pelas vinícolas e algum tempo depois começa se aproximar da cordilheira. Que coisa mais linda! Ali começou o espetáculo, montanhas por todos os lados e eu só me perguntando por que todo mundo só vai lá por conta do Aconcágua… Eu já queria conhecer todas elas! Fiquei com muita vontade de explorar o restante da estrada que cruza os Andes até o Chile, uma sementinha plantada para uma próxima viagem.
A Puente del Inca é uma formação rochosa natural que fica a 2.700 metros de altitude. Um cenário que guarda muitas lendas indígenas da região e abrigou um antigo hotel de banhos termais. Os sais minerais da região são responsáveis pelos tons de laranja, amarelo e ocre que tingem a ponte e outros objetos colocados em suas águas.
Passamos a noite para num hostel para começar a aclimatação. Chegamos no final da tarde, a vila já estava praticamente deserta e um vento frio chegou com o entardecer! Nessa época do ano começa a escurecer por volta das 21h30. Jantamos, tomamos um chá, um belo bate-papo com o pessoal e fomos descansar para iniciar a trilha no dia seguinte!
Puente del Inca x Confluencia
Acordamos cedo, tomamos uma “jarra” de café servida no hostel (rsrs), ouvimos algumas palavras inspiradoras da Fernanda de um texto que havia escrito em sua última montanha e logo encontramos com Osvaldo, que cuida da logística de equipamentos até Confluencia e Plaza de Mulas, assim como o translado do hostel até a entrada do parque.
Na sede do parque em Horcones, a 2.950 metros, fizemos o check-in com os permisos, arrumamos as mochilas e nos preparamos para iniciar a caminhada. Nesse local existem alguns mapas da região, um pouco da história do parque, sua fauna e flora. Os guardas-parque orientam sobre questões da logística de lixo e fezes, como também sobre os checki-ns médicos em cada um dos acampamentos. Achei boa a organização e fomos bem atendidos.
Tudo pronto, finalmente mochila nas costas. Partiu montanha! A caminhada começa por uma planície com alguns lagos e caminhos demarcados para os visitantes do parque. Muitas agências de turismo de Mendonza levam visitantes para conhecer essa entrada do parque onde podem caminhar, conhecer um pouco sobre o Aconcágua e curtir o visual das montanhas. No entanto, esse passeio termina em uma ponte de madeira alguns metros à frente, dali em diante apenas pessoas com permissão para o trekking podem seguir.
Fizemos um registro fotográfico na placa principal do Aconcágua e logo seguimos rumo à ponte. A caminhada é bem marcada e de fácil orientação, passando por algumas colinas verdes e floridas, sempre cercada de montanhas gigantescas (já falei que eu gostaria de subir todas elas e não sei porque todo mundo só vai pelo Aconcágua? :D).
Alguns minutos depois, chegamos à ponte, uma estrutura metálica com calçamento de madeira que cruza o rio principal do vale. Ali vimos as placas que restringem o acesso aos visitantes. Logo depois de alguns metros começa a subida até o acampamento Confluencia. A paisagem muda um pouco, passando para pedras e um solo seco com pouca vegetação.
A caminhada até o acampamento é tranquila nesse dia, pouco mais de 3h ~ 4h de caminhada. Uma forma de começar bem a aclimatação.
Fizemos todo o trekking sem pressa, registramos algumas imagens das montanhas e do vale que a trilha percorre até o acampamento, que fica a cerca de 3.400 metros de altitude.
Por fim, chegamos ao acampamento de Confluencia, nossa primeira parada na montanha para aclimatação. Nos hidratamos e alimentamos bem com uma bela macarronada!
Ainda fiz alguns registros das montanhas ao redor do acampamento no final da tarde! Que incrível! Indico esse trekking para quem quer fazer algo leve. Vi muitas famílias e a galera da terceira idade curtindo a região. Não só até Confluencia mas também até Plaza de Mulas.
Essa foi minha primeira experiência em um acampamento de alta montanha com tanta infraestrutura, para falar a verdade passamos muito mais perrengues aqui na Mantiqueira do que nessa parte dos Andes rsrs (ao menos até essa parte!). É muito legal percorrer o acampamento e ouvir diversos idiomas do mundo, com os visitantes russos, franceses, poloneses, japoneses, brasileiros… Tive um sentimento bom em perceber que tantas outras pessoas ao redor do mundo compartilham da paixão pelas montanhas.
Barracas preparadas, hora de descansar para o dia seguinte! Uma aclimatação a 4.100 metros na Face Sul do Aconcágua e retorno a Confluencia para mais uma noite antes de seguir para Plaza de Mulas.
E assim terminou a primeira parte do relato do parceiro Renan Cavichi, da Aventurebox. Essa aventura foi dividida em 5 episódios. A parte 2 vem pro nosso Blog em breve!