Depois de não sei quantas viagens à Patagônia — uma delas de seis meses de duração, que gerou o premiado filme-documentário Transpatagônia e o consagrado livro Transpatagônia, pumas não comem ciclistas —, já considero a região como “o quintal de casa”… Mas o problema é que esse “quintal” parece não ter fim.
Tenho diversos “assuntos pendentes” na Patagônia… Lugares que ainda não conheço, trilhas que não percorri, histórias que não entendi por completo e experiências que faltam no meu currículo. Após quatro anos de ausência na região, decidi retornar e levar alguns aventureiros comigo. Gente interessada em desfrutar a intensidade vital que sempre caracteriza minhas passagens por essas terras austrais.
Como vem acontecendo todos os anos, há bastante tempo, em 2017 ministrei diversas turmas do curso de trekking e algumas turmas do curso de bikepacking que desenvolvi em 2016. Os alunos mais empolgados, mais interessados e com maior disponibilidade que participaram desses cursos se inscreveram e foram selecionados para a temporada de verão da Patagônia que relato aqui. Para participar da aventura austral os requisitos necessários eram um misto de forma física, equipamento e personalidade. Nada complicado. Não era preciso ser atleta, não era obrigatório ter uma montanha de equipamento top e nem passar por uma bateria de testes psicotécnicos.
Na primeira etapa da temporada, percorremos 609 km em 12 dias pela Patagônia chilena. Nessa viagem, o elemento de exploração foi o Valle Exploradores, uma importante ligação do gigantesco Lago General Carrera com o Oceano Pacífico. Um cenário de montanhas escarpadas, geleiras e cachoeiras monumentais. Já na segunda etapa, caminhamos por cerca de 146 km, da entrada da Reserva Nacional Jeinimeni até um ponto da trilha que circunda a Reserva Nacional Tamango, de onde tivemos uma visão panorâmica privilegiada. Desse ponto, conseguíamos ver o Valle Avilés, o Cordón Chacabuco, a silhueta sinuosa do vale do Lago Cochrane serpenteando também em direção leste. Tudo diante dos nossos olhos. Chegamos a sede da reserva completando 142 km em 11 dias de caminhada com 4.200 m subidos e 3.560 m descidos.
Como esperado, conhecemos personagens dignos de contos por todo essse caminho, ficamos boquiabertos diante de cenários cinematográficos, sofremos pequenos acidentes e fomos confrontados com nossos limites pessoais de forma regular. Saímos de casa com roteiros a cumprir, limitados pelo cronograma imposto por nossas obrigações pessoais e profissionais, parcialmente cientes de nossos potenciais e nossas deficiências.
Cumprimos nossa missão? Essa é uma pergunta capciosa, cuja resposta é bem mais complicada do que um simples “sim” ou “não”… O que sabemos é que o Valle Chacabuco foi doado ao governo chileno exatamente no período em que estávamos na região e toda a área que percorremos a pé será transformada no futuro próximo no Parque Nacional Patagônia. Nosso roteiro um dia será considerado “oficial” e receberá visitantes de todo canto do mundo. Mas nós fizemos tudo antes dessa fama e antes dessa notoriedade… Então acho que podemos nos considerar “exploradores”, né?
Leia o relato completo e veja mais fotos da viagem no blog da Kalapalo Editora!