Quando pensamos no Peru, automaticamente pensamos em Cusco, Machu Picchu e império Inca. Realmente esse cenário é fantástico e deve ser devidamente explorado, afinal, não é à toa que Machu Picchu é uma das 7 maravilhas do mundo moderno. Mas hoje queremos mostrar para vocês o extremo oeste peruano: a Reserva Nacional de Paracas. Localizada no departamento de Ica, nas províncias de Ica e Pisco, a 260 km ao sul da capital Lima, a Reserva é um paraíso no Oceano Pacífico. Criada em 1975, seus objetivos principais são: preservar os ecossistemas marinho e costeiro e sua biodiversidade ameaçados; assegurar o uso responsável dos recursos fornecidos por essa área; e proteger o patrimônio arqueológico e cultural, visando o turismo e o bem-estar da população local.
Como brasileiros, estar na praia e ao mesmo tempo numa região desértica é uma experiência muito diferente. Nosso litoral é associado, em grande parte, à Mata Atlântica, uma densa e exuberante floresta tropical úmida. Estamos acostumados a descer a Serra do Mar nas férias e sentir a pressão nos ouvidos, a umidade no cabelo e aquele cheirinho de mato já nos primeiros quilômetros de descida. A sensação de chegar na praia grudando e com aquele cheirinho de mar é inconfundível, tem gostinho de verão. Pois no litoral peruano as sensações são outras.
Já havíamos passado pelo litoral norte do Chile, que também possui essa característica desértica, mas sempre que nos afastávamos das cidades e chegávamos ao litoral, o questionamento era o mesmo: “ahhh a praia e mar! E… Espera. Deserto? Cadê a mata?”. O clima seco disfarça a maresia, e o cheirinho de mar não é tão evidente. A vontade de tomar aquela água de coco geladinha é multiplicada por 1000, e no lugar de pele grudando nos pegamos pensando “onde foi que deixei o hidratante?”. A euforia de estar na praia e não se sentir na praia vem à tona o tempo todo. É uma experiência única olhar para o mar e quando olhar para trás não ver o final da praia, porque a areia da praia se confunde com a do deserto e se estende até onde os olhos podem ver. Tudo fica ainda mais incrível quando se chega à Praia de Areia Vermelha, cujo nome é literal!
Incluir a Reserva Nacional de Paracas no seu roteiro de viagem ao Peru é uma decisão acertada. A Reserva é administrada pelo SERNANP, Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas pelo Estado, e conta com centro de visitantes, casa de guarda-parques, zona de camping, administração e um museu. Como em todas as áreas protegidas do Peru, uma taxa de ingresso de 10 soles é cobrada ao visitante estrangeiro e 5 soles a visitantes peruanos ou estrangeiros residentes no país (o equivalente atualmente a 10 e 5 reais, respectivamente, já que o câmbio é aproximadamente 1:1). Uma Reserva Nacional, além de proteger a biodiversidade e o ecossistema local, tem também o objetivo de permitir uma extração sustentável dos recursos naturais, ou seja, é permitido o comércio de determinados recursos ou serviços disponibilizados pela área protegida, sempre respeitando um plano de manejo e sob supervisão do órgão responsável. No caso da Reserva Nacional de Paracas a principal atividade é a pesca, mas a Reserva também conta com uma zona de restaurantes para atender o público. Dessa forma, busca-se o desenvolvimento social e econômico da comunidade local, atrelados aos cuidados com o meio ambiente.
A Reserva alberga uma grande diversidade e quantidade de aves, como pelicanos, pinguins de Humbolt e flamingos, o que facilita muito o avistamento e as fotografias. Mas Paracas é o queridinho dos turistas pelos leões-marinhos, que estão sempre se exibindo nas Ilhas Ballestas. Outro mamífero que costuma dar o ar da graça por lá são os golfinhos, mas nós não tivemos essa sorte.
Até agora já passamos por 27 áreas protegidas e todas, sem exceção, possuem problemas com o lixo. Mais especificamente com o descarte deste lixo por turistas ou pessoas que moram no entorno destas áreas. A questão é que o lixo deixa de ser um problema quando simplesmente não o vemos mais. Como em um passo de mágica tudo está resolvido. E assim deixamos nosso lixo em lotes vazios, em uma mata longe da nossa casa ou, ainda, jogamos no mar. Parecemos ignorar a quantidade diária de lixo que produzimos, o tempo de decomposição ou o espaço físico necessário para tratarmos deste lixo. A cada ano, 10 milhões de toneladas de lixo acabam em mares e oceanos. Sua maior parte é formada por plásticos, embora exista de tudo. O problema é que este plástico se torna cada vez menor devido a ação do sol, do sal e da água, e passam a ser ingeridos pelos animais marinhos. Em Paracas não foi diferente. Pudemos observar cenas como a da foto acima.
Um dos maiores problemas ambientais da atualidade é a relação conflitante entre o homem e alguns animais, que competem pelo mesmo recurso. Um exemplo são os pescadores e o leões-marinhos. Ambos querem a mesma coisa, os peixes. Os pescadores investem seu tempo e seus recursos para conseguir pescar e, com isso, sustentar suas famílias. Os leões-marinhos, por sua vez, aprenderam que buscar estes peixes quando estão cercados pelas redes de pesca é mais fácil. E, assim como os pescadores, investem seu tempo e energia para se alimentar e, então, cuidar dos seus filhotes. Assim é a natureza. Uma eterna competição onde os mais aptos sobrevivem. A diferença é que os animais contam com os seus instintos, já o homem pode valer de sua inteligência e racionalidade. No entanto, matar indiscriminadamente os leões-marinhos não é uma decisão inteligente e nem racional. Eles são parte de toda uma cadeia que funciona como uma engrenagem, e se falta uma peça todo o sistema entra em desequilíbrio.
Buscar uma solução para este impasse é urgente e vem sendo trabalhado pelos guarda-parques da Reserva de Paracas em palestras e oficinas de educação ambiental. É um desafio, mas com muita sensibilização e informação estão evoluindo nesta problemática. Como disse o guarda-parque Emílio Fuentes-Garcia: “É difícil. Mas tudo que vale a pena na vida é difícil”.
Veja mais fotos feitas pelo Thiago na visita a Paracas:
Até a próxima, comunidade SPOT Brasil! Em breve contamos mais sobre nossa grande viagem sobre duas rodas em 121 países, investigando sobre a biodiversidade e serviços ecossistêmicos!