A ORIGEM DO PROJETO
Sabendo que a cordilheira dos Andes é a mais extensa do mundo, ultrapassando os 6 mil km de extensão, do Caribe à Terra do Fogo, os montanhistas – com auxilio de estudos da Suzie Imber, professora da Universidade de Leicester, e com instrumentação da NASA – concluíram que existem 104 cumes com mais de 6000 metros na região, incluindo o mais famoso, do Aconcágua, que faz parte dos 7 cumes, e planejaram uma série de expedições para conquistar todos os cumes, mapeando e descobrindo locais extremamente isolados.
Na empreitada, já concluíram 72 cumes com mais de 6000 m, encontraram ruínas incas nos trajetos, acionando institutos de conservação e arqueologia da Argentina e Chile. Além disso, recentemente encontraram múmias de crianças incas numa espécie de santuário, extremamente conservadas devido à falta de bactérias na altitude extrema.
Grand Slam no montanhismo
Depois de 1986, quando o alpinista italiano
Reinhold Messner escalou todos os 14 cumes acima de 8 mil metros (as mais altas do Himalaia), surgiram diversos projetos que reuniam a ascensão de montanhas com características semelhantes, que passaram a se chamar
Grand Slams” do montanhismo. São elas, além dos
14 oito mil do Himalaia, a ascensão de
todas as montanhas com mais de 4 mil metros dos Alpes (84),
todas com mais de 5 mil na América do Norte (10), os
7 cumes (o mais popular, com o mais alto de cada continente, cujo o próprio Aconcágua faz parte sendo o mais alto da América Latina), entre outras menores. Seja pelo grande número de cumes ou pela dificuldade e isolamento, escalar
todos os 6 mil andinos (104), era algo inimaginável, que ninguém havia se proposto até então, e o projeto não entrou no rol de grand smals do montanhismo.
A
expedição Andes 6K +, como foi batizado o projeto, está sendo realizada em diversas etapas, desde 2011 (antes mesmo de existir o nome). O líder Maximo Kausch, que em 2016 se tornou o
recordista mundial em ascensões de 6 mil andinos, partiu para mais uma etapa, para escalar as 12 montanhas que faltavam para completar todas entre Chile e Argentina.
Voltando à última etapa de 2016
Para esta etapa, Kausch convidou seu amigo, o montanhista paulista Pedro Hauck, que escala com ele há quase 20 anos, Suzie Imber, que o ajudou na pesquisa científica para mapear as montanhas, o fotógrafo e documentarista paulista Gabriel Tarso, o mecânico gaúcho Jovani Blume e a montanhista paranaense Maria Tereza Ulbrich.
O grupo dirigiu-se à Argentina em dois veículos 4×4 especialmente preparados para a expedição, e uma moto. A utilização dos veículos foi de grande importância para fazer a aproximação das montanhas que eles queriam escalar, já que na maioria dos locais, não havia estradas nem nivelamento. Algumas montanhas eram afastadas mais de 400 km das cidades mais próximas. Na lista estavam alguns dos picos mais remotos e de mais difícil acesso de toda cordilheira dos Andes, montanhas que foram conquistadas há pouco tempo e que até hoje receberam pouquíssimas repetições.
Os carros e a moto nos Vallecitos Colorados
A primeira dificuldade da expedição aconteceu antes mesmo do grupo chegar aos Andes. Em Corrientes (Argentina), eles foram assaltados, e levaram , além de vários equipamentos, o dinheiro de patrocínio que eles haviam conseguido. Após o triste episódio, os montanhistas seguiram e, após a ascensão de duas montanhas na província de Salta para aclimatação, o Vulcão Tuzgle (5500m) e Acay (5770m), o grupo enfim conquistou seu primeiro cume de 6 mil metros, o Antofalla, que em seu cume de 6440 metros tem uma ruína inca.
Ascenção ao Antofalla
Após esta primeira montanha, o grupo atravessou o planalto desértico da
Puna do Atacama e escalou duas montanhas extremamente remotas que foram dois dos últimos 6 mil andinos a serem conquistados na história, o
Cerro Colorados e
Vallecitos, de 6080 e 6170 metros respectivamente.
Após estas, o grupo se dirigiu até a região do Paso San Francisco e escalou o Vulcão El Condor, de 6414 metros, uma montanha de acesso muito difícil e perigoso que foi escalada pela primeira vez em 2003, contando com poucas ascensões até hoje. Na sequência, Maximo escalou sozinho com sua moto o Pissis com 6800 metros, que é a terceira montanha mais alta dos Andes.
Maximo Kausch em direção a Fiambala
Deixando a região árida da Puna do Atacama, o grupo começou uma série de escaladas pelos Andes Centrais da província de San Juan, na Argentina, onde a paisagem é caracterizada pelos vales profundos e as montanhas são marcadas por aproximações longas a pé. A primeira montanha desta região que eles escalaram foi o desconhecido Majadita de 6280 metros.
Após este cume, o grupo conseguiu uma permissão de uma mineradora de ouro e utilizando uma estrada privada da empresa conseguiu acessar o Cerro El Toro de 6168 metros, uma montanha que não era escalada desde 2009. Nesta montanha eles enfrentaram a neve afundando até o joelho e uma ascensão exaustiva de 1400 metros de desnível. Atravessando a fronteira do Chile, as duas últimas montanhas de 6 mil metros foram escaladas próxima à região metropolitana de Santiago, o Marmolejo e o Nevado El Plomo.
Pedro no Cerro El Toro
No Marmolejo (6108 metros), todos os integrantes do grupo fizeram cume juntos num dia de muito vento e frio. Esta foi a montanha mais popular que eles escalaram na etapa e a única em que encontraram outras pessoas, 3 montanhistas chilenos. Após este cume, Pedro e Jovani tiveram que voltar para casa e Gabriel, Suzie e Maximo escalaram a Nevado El Plomo (6070 metros) que é o 6 mil menos frequentado dos Andes centrais chilenos e que foi a montanha mais difícil, com uma aproximação de cerca de 40 quilômetros, muito vento e desnível vertical.
Ascenção ao Marmolejo
Antes, o grupo ainda tentou escalar o Cerro La Mesa, de 6200 metros, na Argentina. Porém eles foram abandonados pelos arrieros que transportavam seus equipamentos com mulas e tiveram que pernoitar sem saco de dormir e roupas apropriadas numa noite de nevasca e tiveram que desistir.
Apesar de não ter conseguido fazer as 12 montanhas que pretendia e ter enfrentado muitas dificuldades, esta etapa do projeto Andes 6K+ foi um sucesso e os números mostram que a equipe liderada por Maximo Kausch assumiu um papel de protagonismo mundial quando o assunto é exploração dos Andes. Kausch reafirma seu nome como o maior andinista de todos os tempos, com 72 cumes diferentes acima de 6 mil metros na cordilheira. Seu amigo Pedro Hauck, com 45, é o quarto montanhista com mais ascensões a montanhas desta altitude nos Andes, sua mulher, Maria Tereza Ulbrich, com 9 montanhas já é a brasileira mais experiente.
A expedição de novembro de 2016 foi inteiramente fotografada e filmada por Gabriel Tarso, somou 7 cumes de 6 mil metros, e será editada para virar um documentário ainda em 2017.
Maximo Kausch planeja escalar as 3 montanhas que lhe faltam para completar todos os 6 mil da Argentina e Chile ainda este ano. São elas o Cerro La Mesa de 6200 metros, o Alto San Juan de 6130 e o Negro Pabellon de 6070. Se ele completar estas escaladas se tornará no primeiro montanhista do mundo a realizar tal feito e lhe faltará apenas os 6 mil andinos do Peru, uma vez que
ele e Pedro Hauck já fizeram todos da Bolívia.
Esse texto foi adaptado do original publicado pelo site Alta Montanha. Veja o original e outros artigos sobre montanhismo.