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Esse Cume é Delas

Esse Cume é Delas

Aventura

“Ali no cume, eu vi somente mais uma mulher chegando. Havia um monte de homens montanhistas comemorando e celebrando e eu vi apenas mais uma naquele local além de mim.”

 
 
 
Valeu a pena! O que buscava, encontrei. Terminou assim minha viagem ao Equador, 
com muitas — e valiosas — lições, mas, acima de tudo, com a certeza de que, comigo, estavam milhares de mulheres que, sem precisar escalar os mesmos 6.267 metros de altitude que escalei, me olhavam na altura dos olhos, como que reconhecendo a minha luta, gigantes no topo de suas próprias escaladas.  
 
Foram 10 dias no país pequeno, porém riquíssimo em cultura, onde me programei para a escalada de 4 vulcões. Conheci equatorianos e brasileiros em Quito. Revi rostos conhecidos e fiz novos amigos, além de muitos aprendizados sobre humanidade e empatia. Meus objetivos foram alcançados: condicionamento físico, psicológico e técnico em alta montanha. Nos dois primeiros vulcões, cheguei ao topo: Rucu Pichincha e Illinizas Norte e... por pouco, não me enganei ao pensar que estava sendo o meu melhor treino pré-Everest por conta do sucesso das escaladas iniciais; mais que isso, o reflexo direto dos meus últimos 11 MESES de preparação para chegar até aqui.
 
Já escrevi sobre a aventura no Rucu Pichincha, então gostaria de retomar de onde deixei — Illinizas Norte. 
 
 
Eu já tinha escalado esse vulcão há uns 6 anos, mas não lembrava o quanto ele era tecnicamente desafiador. Foi assim que subi, durante 6h15 de ascensão, passando por barro, areia, pedra, neve, muita coragem, e pensando que seria mais um bom treino pré-Everest. Estávamos em quatro: Cristian, Daniel, David e eu. Uma equipe bem harmônica e focada em nosso objetivo comum. No início do dia, tivemos um visual aberto e pudemos ver os dois Illinizas, Norte e Sul. Foi lindo!

Caminhamos em meio a uma vegetação que só existe nos campos altos do Equador e chegamos ao Refúgio Nuevos Horizontes, a 4.600 metros. Almoçamos, e seguimos ao topo. Foi a partir daí que começou o trecho mais técnico, difícil até para montanhistas com alguma experiência. Levamos mais 3h15 para chegar ao cume, a 5.126 metros, enfrentando um dia nublado que fazia 5° C e parecia estar resmungando para nós.
 
 
Na descida, tivemos que correr. Por diversão? Antes fosse. Fomos atacados por um TOURO no meio do caminho. Chorei intensamente por sentir que Deus falava comigo sobre uma pessoa no Brasil que está se tratando de Covid. Morri de orgulho ao ver um cliente enfrentando seus medos de transitar em trechos de pedra e rocha e fiquei impressionada com o outro que pirava de alegria por estar vivendo a montanha com tanta verdade. Após 2h45, estávamos de volta ao carro e quase não coubemos todos, de tantas emoções que entraram conosco no veículo.
 
A próxima ascensão que havia planejado era o Cayambe e… deixe-me dizer, ele foi um capítulo à parte! Talvez, uma pequena mostra do que viverei no Everest.
 
 
Estava muito úmido. Chegamos no refúgio alto do Vulcão Cayambe (4.600 m) por volta das 15h, e planejávamos sair às 23h em ponto rumo ao cume. Ventava forte e chovia torrencialmente. Eu observava aquela cena inóspita e não conseguia evitar de pensar sobre o que me aguarda no Nepal daqui a 1 mês e meio. Não foi possível sair.
 
Decidimos postergar a saída para as próximas horas. Tínhamos a esperança de que o tempo fosse melhorar... o que, infelizmente, não ocorreu. Então, à 01h da madrugada, decidimos dormir e acordar às 04h para nos arrumar e sairmos para fazer uma pequena caminhada para, ao menos, treinar e aclimatar.
 
Dormi muito mal, senti frio — a sensação térmica era de 15 C negativos! — e fui muitas vezes ao banheiro por conta da super hidratação que precisamos fazer nestas circunstâncias. Senti um pouco de dor de cabeça e náuseas por conta da altitude, mas às 04h estava lá eu, de pé. Me arrumei, tomei um chá quente, dei umas três mordidas no pãozinho e pronto, saímos. 

Caminhamos acima do refúgio até amanhecer, por aproximadamente 1 hora, e descemos. A roupa ficou totalmente molhada, mas, por ter tecnologia impermeável, estávamos seguros. Entramos, descansamos uns minutos, comemos melhor e descemos para a cidade. Quando voltávamos da montanha, o carro começou a fazer um barulho estranho. Paramos no mecânico e, enquanto esperávamos, conheci essa garotinha, ela estava brincando sozinha na rua. Conversamos e brincamos e, naquele momento, nos reconhecemos na leveza em meio à tempestade. 
 
 
Tudo isso foi especialmente bom para meu aprimoramento psicológico. Lidar com a natureza, sentimentos variados (negativos inclusive), pessoas com motivações e opiniões distintas, dores, fome, incertezas e desconforto testavam a minha resiliência e o meu domínio próprio. Lidar comigo mesma, em uma situação extrema, não foi fácil. No vulcão Cayambe, diante da frustração de não chegar ao cume, tive algumas das melhores lições sobre o que, provavelmente, terei de lidar no Everest. Que a escalada à alta montanha pode, sempre, ser mais desafiadora do que se imagina e o condicionamento físico é a menor parte deste processo que nos levará ao sucesso na empreitada. Foi neste terceiro vulcão que exercitei o foco no propósito e consegui superar as adversidades.
 
Após a tentativa frustrada de escalar o terceiro mais alto vulcão do Equador, me permiti um dia de descanso ativo. Fiz uma longa noite de sono na hosteria — diga-se de passagem com excelente estrutura, comida e atendimento —, acordei, tomei café da manhã e segui com Daniel e David para um passeio de mountain bike. Percorri quase 12 km na área rural ao redor da hosteria. Vimos montanhas, cachorros, burro, vacas, plantação de rosas e muito mais. Também tivemos a companhia de dois mascotes do refúgio, dois cachorros que estiveram conosco durante o percurso inteiro. Foi uma ótima manhã de reflexão, ar puro, aclimatação e último lazer antes da grande empreitada: a escalada do vulcão Chimborazo.
 
Renovada, segui rumo ao meu principal desafio com as melhores expectativas. O Chimborazo (6.267 metros) é a mais alta montanha do Equador e era a última montanha prevista na viagem. Essa foi a mais dura ascensão em montanha da minha vida! Saímos durante a madrugada de sábado para realizar o ataque ao cume, e chegamos ao topo, em segurança, ao amanhecer. Quase desisti nos últimos 15 minutos. Estava esgotada, e o ritmo forte que queriam que eu fizesse não era mais possível. Por incentivo do David e do Jendrik, fui "despacito" e consegui transpor os últimos metros de ascensão.  
 
 
Se, no Cayambe, o que enfrentamos foi praticamente um dia cinza, sem vida e apocalíptico, na chegada ao cume do Chimborazo, a cena era bem diferente. Porque foi como se Deus estivesse sorrindo para nós, iluminando cada detalhe que eu enxergava. A brancura da neve. Sua textura. As mechas do céu. As cores no horizonte. Cada raio solar que resplandecia nos rostos daqueles que chegaram ali comigo. Fazia sol. E fazia paz. O silêncio do respeito ao milagre que ecoava por todos os lados daquela montanha. 
 
Foi quando, ali no cume, eu vi somente mais uma mulher chegando. Havia um monte de homens montanhistas comemorando e celebrando e eu vi apenas mais uma naquele local além de mim. Com o Dia Internacional das Mulheres se aproximando, eu dediquei esse cume do Chimborazo à ELAS. O que nós precisamos, enquanto mulheres, é ter a confiança de que a gente pode tentar. Invista nos seus sonhos. Porque para cada Cayambe pelo caminho, haverá 10 Chimborazos.
 
 
A minha maior conquista será o EVEREST, mas tenho certeza que cada mulher que conheço enfrenta suas próprias montanhas ao longo da vida. Eu admiro a FORÇA de vocês! Hey, mulher! Falo com você. Com todas vocês. Conquistem os seus vulcões. Ou o seu Everest. Ou o que quiserem. Vocês podem. Tenho certeza.
 
O CUME É NOSSO.
 
Spot BR, agradeço por todo apoio, pelo espaço para me expressar e por me ajudarem a me manter segura durante a minha jornada!
 
Rumo ao Nepal, sigo #ProntaParaAventura.
 
Grande abraço,
Aretha